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sábado, 14 de agosto de 2010

PROJETO PARA PRODUÇÃO DE ÁLCOOL DE MANDIOCA NO JORDÃO PASSA À PRÁTICA

Embrapa e empresa privada montarão em Brasília usina piloto que pode ser instalada no Acre
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Presidente Lula numa usina de etanol

O projeto de implantação de uma usina para a produção de etanol a partir da mandioca, no município de Jordão, no interior do Acre, acaba de sair do papel. Fruto de parceria entre os gabinetes do senador Tião Viana e do deputado federal Fernando Melo, ambos do PT do Acre, o projeto vai ganhar contornos físicos no período de 25 de março a três de abril deste ano, quando será implantada no Distrito Federal, através da Embrapa Cerrado, uma unidade experimental de um invento privado batizado de USI – Usinas Sociais Inteligentes, o qual deverá ser implantado em Jordão, um dos municípios mais isolados do Acre e de menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil - instrumento criado pela ONU (Organização das Nações Unidas) para aferir a qualidade de vida em localidades remotas ao redor do mundo.

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As USIs, na verdade, são biorrefinarias de pequeno porte para produção de álcool capazes de colocar ao alcance do pequeno produtor a fabricação de até mil litros dias de etanol, a partir de cana, batata doce, mandioca ou do sorgo sacarino, um vegetal parecido com a cana de açúcar e com grande resistência à seca (por isso também chamado de planta camelo), original do Sudão que se adaptou ao território dos Estados Unidos e que está sendo pesquisado e plantado pela Embrapa no Brasil. Com a implantação da USI no Distrito Federal, a Embrapa vai conceder à empresa fabricante a chamada “validação”, que consiste na aplicação de um selo da instituição afirmando que o invento corresponde às necessidades da pesquisa. A usina experimental em Brasília vai gerar cerca de 200 litros por dia de etanol do tipo padrão ANP (Agência Nacional do Petróleo).

Uma USI, com capacidade de fabricação de mil litros dia de etanol, poderá ser implantada em regiões como Jordão a um custo de R$ 250 mil, segundo o dono da empresa fabricante do invento, o engenheiro Eduardo Cauduro Mallmann. O invento já tem inclusive reconhecimento das agências internacionais de desenvolvimento sustentável, como é o caso do Banco Mundial. A empresa Usinas Sociais Inteligentes S/A, com sede em Porto Alegre (RS), defendeu, em novembro de 2008, a convite do Banco Mundial, em Paris, o conceito do Bioethanol Social como vetor de desenvolvimento de comunidades carentes rurais, quando o projeto das USI foi apresentado. “Nós temos condições de, em 30 dias, implantarmos a usina em qualquer região do Brasil”, disse Cauduro Mallmam.

Empolgado com a idéia, o governador Binho Marques deverá comparecer à chamada solenidade de “validação” da usina em Brasília, segundo informou ontem, em Rio Branco, o idealizador do projeto para o Jordão, o deputado federal Fernando Melo. “Até agora, em termos de apoio político, eu só havia conversado com o senador Tião Viana, que não só nos incentivou como também se associou à idéia. Ao apresentar o projeto ao governador Binho Marques, senti nele o mesmo entusiasmo e o convidei para esta solenidade de validação em Brasília. Ele me disse que vai e que quer conhecer o projeto mais detalhadamente”, acrescentou Melo.

O município do Jordão foi objeto, na semana passada, de uma grande polêmica. Reportagem veiculada pelo programa “Fantástico”, da Rede Globo, listou o município entre os mais miseráveis do Brasil, com base nos índices do IDH. O deputado Fernando Melo negou que o projeto esteja sendo retomado por causa da reportagem do Fantástico. “Tive essa idéia ao constatar, nas minhas andanças pelo interior do Acre, que o litro de gasolina em Jordão chega a custar até mais de R$ 5,00 o litro. Como já vinha recorrendo a pesquisadores para estudar a mandioca como alternativa energética, conclui que uma boa saída, para ajudar no desenvolvimento de Jordão com a geração de emprego e a redução do preço do combustível, seria buscar uma alternativa com base no biocombustível. Fomos criticados por alguns setores, mas nunca desistimos da idéia e estou cada vez mais convencido de que estamos no caminho certo”, disse o deputado.

De acordo com Fernando Melo, um projeto no valor de R$ 1,3 milhão foi apresentado à Eletronorte para que a empresa financie a implantação. O senador Tião Viana disse que o projeto é justo e viável.

Pesquisador conclui que território acriano deu origem à mandioca

Fernando Melo revelou que chegou aos estudos que resultaram no projeto após contato com o pesquisador Dione Sallas, engenheiro agrônomo do Rio Grande do Sul que vive no Acre desde 1982 e que acaba de se doutorar, pela Unesp (Universidade do Estado de São Paulo), na área de energia a partir de raízes tuberosas. Ele estuda a mandioca e suas propriedades desde seus primeiros contatos com a cultura indígena, no início dos anos 80, no interior do Acre. “Eu percebi que, a caiçuma, o liquido extraído da mandioca para os rituais indígenas, tinha um elevador teor alcoólico”, revelou o pesquisador. “Ao me aprofundar na área, descubro que o Acre detém a melhor mandioca do país e tem este produto em abundância porque sua origem seria as terras onde atualmente se localizam o Estado, na faixa de fronteira entre a Bolívia e o Peru”, disse o professor.

Isso significa que, em milhões de anos passados, uma planta que a botânica ainda não definiu o nome, deu origem à raiz que, anos mais tarde, a mitologia indígena chamaria de Mani, alusão à lenda que conta a história do contato dos índios com o produto, nos primórdios da ocupação amazônica. “A partir desses estudos, partimos para descobrir as potencialidades da mandioca. Além da farinha, mais de mil ingredientes podem ser obtidos da mandioca, inclusive o etanol”, disse.

Além disso, garante Sallas, o etanol extraído da mandioca é melhor e mais abundante do que o extraído da cana de açúcar. Segundo ele, para cada tonelada de cana de açúcar, são produzidos 84 litros de etanol, enquanto que, para cada tonelada de mandioca, a produção é de180 litros de etanol. “Além desta vantagem quantitativa, no beneficiamento da mandioca, o resíduo não é tóxico e tem aproveitamento total na alimentação animal. Outro fator positivo é que a mandioca pode ser plantada em consórcio com outros produtos, como o milho, o arroz e o feijão – enquanto que a mandioca ocupa todo o espaço”, disse Sallas.

Tião Viana e Fernando Melo disseram que a escolha de Jordão como base da experiência se relaciona também ao isolamento e a busca de uma alternativa econômica para o município. “Sempre defendi que municípios isolados como é o caso de Jordão precisam ter, sim, uma alternativa econômica. Este projeto une as duas coisas, a busca de energia sustentável com geração de emprego e renda”, disse Tião Viana. “Depois de ouvir as explicações técnicas, estou convencido de que, do ponto de vista econômico, onde um litro de etanol da cana de açúcar custa mais de R$ 2,00, a alternativa da mandioca será sempre viável”, disse Fernando Melo.

Dione Sallas, por sua vez, disse que, do ponto de vista mecânico, não haverá problema na adaptação de motores à gasolina para esta alternativa de combustível. “Para os motores a diesel, a alternativa do etanol não é possível. Mas, para os motores à gasolina, como é ocaso da energia utilizada em pequenas embarcações em regiões como a de Jordão, o etanol pode sim substituir a gasolina e nós vamos nos dedicar à busca desta alternativa”, disse Dione Salles.


Mandioca açucarada reduz custo energético em até 40 %

Na busca por aliados ao projeto, o deputado Fernando Melo e o senador Tião Viana esbarraram, além de Dione Sallas, com pessoas como o pesquisador Luiz Joaquim Castelo Branco Carvalho, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, de Brasília. As primeiras notas técnicas sobre um tipo de mandioca especial, com alto teor de glicose e sacarose, foram registradas por Castelo Branco em 1998, durante a realização de um congresso internacional de biotecnologia de mandioca, em Salvador.

Em mais dez anos, o pesquisador que redescobriu o tubérculo, antes usado pelos indígenas na alimentação e produção de cachaça, desenvolve estudos para a produção de etanol a partir da mandioca-doce. Segundo Carvalho, é possível encontrar 25% de glicose e pelo menos 10% de sacarose nessa raiz. "O açúcar que tem na cana é só sacarose, e apenas 12%", compara. Enquanto uma tonelada de cana produz 85 litros de álcool, a mesma quantidade de mandioca pode produzir 211 litros do combustível. A variedade, até então privilégio da região Norte do País, está sendo cultivada pelos técnicos da Embrapa no cerrado. Lá a produtividade é até quatro vezes menor, mas melhoramentos genéticos estão sendo realizados para se colher mais mandioca-doce no meio-oeste do País. É dos hectares de testes plantados em Brasília que vão sair as toneladas a serem processadas em escala industrial.

Castelo Branco explica que a "composição de açúcar dessa planta confere uma rapidez ao processo de conversão em álcool", enquanto o açúcar da cana leva 14 horas para ser beneficiado. Além de dispensar o processo de hidrólise e adição de enzimas (importadas), o que pode reduzir o custo energético em até 40%.Cada hectare de mandiocaba rende 14 metros cúbicos (m3) de álcool. Pelo processo convencional de hidrólise de amido da mandioca o rendimento é em torno de 6,4 m de álcool por um processo de fermentação que dura até 70 horas, enquanto o processo tradicional da cana-de-açúcar chegou a 8 m em 48 horas.

De acordo com o pesquisador, a descoberta desta mandioca especial se deu durante uma viagem de coleta de plantas na Amazônia, quando ele conheceu uma variedade de mandioca que em vez de amido tem grande quantidade de açúcares na raiz. Sua localização se deu em Altamira, Belém e nordeste do Pará, Ilha do Marajó e no Oiapoque, no Amapá. A variedade descoberta pelo pesquisador é na realidade uma mutação genética, guardada e usada pelos índios brasileiros antes mesmo de os portugueses chegarem ao Brasil, para obtenção de bebida alcoólica. “Eles usavam a bebida, chamada caxirim, nas cerimônias religiosas e nas celebrações”, disse Castelo Branco. A planta mutante, após um processo tradicional de seleção de variedades e cruzamento com plantas adaptadas a algumas regiões escolhidas para futuros plantios, resultou em uma variedade que dispensa o processo de hidrólise do amido da mandioca para transformação em açúcar e conversão em álcoois, inclusive o carburante para o combustível. “A eliminação da hidrólise do amido reduz em torno de 30% o consumo de energia no processo de produção de etanol de mandioca”, diz Carvalho. Isso significa que o processo para obtenção do etanol, a chamada hidrólis, dispensa o aquecimento da fécula, produto extraído da mandioca comum, que consiste no aquecimento com água a cem graus para torná-la liquida.

Da variedade, chamada de mandioca açucarada, a raiz é colhida, moída, prensada e o caldo sai pronto para ser usado no processo de produção do álcool, o que a diferencia das outras matérias-primas utilizadas com a mesma finalidade. “Os substratos que existem no reino vegetal ou são sacarose, da cana, da beterraba e do sorgo sacarino, por exemplo, ou amido, do milho, de raiz de mandioca, grãos de arroz e grãos de sorgo. Também podemos fazer etanol de bagaço da cana, de gramíneas e resíduos de lavouras”, disse o pesquisador, por telefone.

Povo acriano tem now how em mandioca, diz deputado

O deputado Fernando Melo disse não ter dúvidas de que a mandiocaba se adaptaria bem ao território acreano. Ele próprio fez plantar, na região de Sena Madureira, cerca de 500 pés da espécie da mandioca e o resultado foi o esperado. “É uma mandioca de excelente qualidade”, avaliou.

Além disso, os produtores acreanos detém experiência na plantação e no cultivo de mandioca. “Desde o princípio da ocupação do Acre, o roçado, a lavoura, é a única atividade do acreano depois do corte da seringa. Por isso, ganhamos, historicamente, esta experiência, principalmente no cultivo da mandioca. É por isso que não tenho dúvida de que, se implantarmos esta usina em Jordão, os agricultores da região conseguirão produção para atender a demanda. Isso vai gerar emprego, renda e reduzir o preço do combustível na região”, disse o deputado.

Assessoria do Gabinete do senador Tião Viana (Tião Maia)

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