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sábado, 23 de outubro de 2010

Mandiocaba, a mandioca doce da Amazônia, vira etanol


MONTEZUMA CRUZ
Agência Amazônia

PLANALTINA, DF – Mandiocaba, a mandioca doce da Amazônia, transformou-se em álcool etanol nesta terça-feira, mas a experiência vai continuar, anunciaram cientistas responsáveis pelo teste. Ao constatar que a carga de 250 quilos de massa desintegrada dessa variedade rendeu 25 litros de etanol (C2H5OH) o pesquisador Luiz Joaquim Castelo Branco Carvalho, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, anunciou a surpresa: além do açúcar utilizado naturalmente na fabricação do etanol, apareceram outros açúcares que não entram na fermentação. “Precisamos agir rápido para evitar a formação de aldeídeos (compostos químicos orgânicos). Agora, concentraremos os esforços para utilizar todo o potencial dessa variedade”, disse Carvalho, no fim do teste.

Em 72 horas, as dornas de uma microdestilaria da USI (Usinas Sociais Inteligentes) funcionaram a todo vapor. Os

Salla (d) ergue o tubo com etanol, observado por Carvalho (e): comemoração / M.CRUZ
Salla (d) ergue o tubo com etanol, observado por Carvalho (e): comemoração / M.CRUZ
pesquisadores considerarem razoável a experiência. Sem a necessidade da hidrólise, a massa fermentou por um período de aproximadamente dez horas, entrou em destilação e saiu “no ponto”. O álcool saiu a 96 GL (sigla de Gay Jussac e Cartier, criadores do densímetro para álcool).

Carvalho lembrou que o álcool é feito de glicose e não de sacarose e, no uso da mandiocaba, o açúcar já é glicose. Na mandioca não existe nenhum composto que iniba o processo biológico de fermentação alcoólica. Dependendo da região, a obtenção do álcool a partir dela poderá ser mais barata inclusive do que pela cana-de-açúcar, ele estima.


A experiência detalhada por Carvalho será oferecida à Agência Nacional de Petróleo (ANP). A agência estabelece para o País três tipos de produção de álcool combustível: o anidro, sem água, com 99% a 100%, usado diretamente nos carros flex; o álcool de 95 a 96 GL, com 5% de água, que não se mistura à gasolina e é usado diretamente na bomba; e o álcool convertido em aditivo para a gasolina. Carvalho iniciou em 1996 pesquisas com as variedades de mandioca coloridas e açucaradas. Em 2003 produziu o xarope glicosado e em 2008 chegou ao álcool.


Rendimento


▪5 a 7 mil litros por hectare é o total de bioetanol produzido pela cana-de-açúcar.

▪ 4 a 6 mil litros por hectare é o total de bioetanol produzido pela batata-doce.

▪ 4 a 6 mil litros por hectare é o total de bioetanol produzido pela mandioca.

▪ 3,5 a 4,5 mil litros por hectare é o total de bioetanol produzido por sorgo sacarino.



Os equipamentos da USI vêm sendo testados há três anos para produção de álcool a partir de mandioca açucarada. Segundo o engenheiro Eduardo Malmann, a tecnologia “preserva o lado social e ambiental” e pode ser utilizada em propriedades rurais, cooperativas e prefeituras. Custo de produção do bioetanol: entre R$ 0,35 e R$ 0,50 o litro.


Chineses acompanham tudo

PLANALTINA, DF – Ao redor da máquina, os visitantes acompanham a experiência que definirá o uso da mandiocaba como principal ingrediente na produção do etanol. Quase ninguém se mexe do lugar. Os olhos estão fixos na massa que sai lentamente da máquina trituradora, e na pesagem feita ao lado, numa balança de precisão. A engenheira química Sílvia Belém, da área de Bioenergia pesa e confere as dezenas de baldes com a matéria-prima. Suas explicações são traduzidas em inglês por um funcionário da Embrapa Biotecnologia.

Os professores Wenquan Wang, da Academia de Ciência Chinesa para Agricultura Tropical (Catas), e Xin Chen, do Instituto Tropical de Biociência acompanharam o professor Bin Liu, PhD do Instituto de Genomas de Beijing (China) e assistente de direção daquela instituição de ensino.
Professor chinês observa a formação da massa que será levada à dorna / M.CRUZ
Professor chinês observa a formação da massa que será levada à dorna / M.CRUZ


Estudiosos do seqüenciamento de genoma de suínos, de frangos e do ser humano, agora eles conhecem o uso da mandioca na produção de álcool. Na semana passada, eles conheceram o banco ativo de germoplasma de mandioca da Embrapa Cerrados, que reúne uma coleção com quinhentas variedades de diferentes procedências, entre as quais, a mandiocaba.

Conheceram parte dos aproximadamente 2 ha de mandiocaba cultivada no cerrado. Segundo o pesquisador Josefino Fialho, o primeiro arranquio ocorreu após um ano. Parte da lavoura foi plantada em novembro de 2008. Embrapa e Catas assinaram um memorando visando a cooperação em melhoramento genético da mandioca. O pesquisador Eduardo Alano Vieira mostrou-lhes ainda a matéria-prima para o aumento da produtividade das variedades vermelha – rica em licopeno – e amarela, espécie com maior teor de betacaroteno.

Eles informaram que possuem uma coleção com aproximadamente mil acessos de mandioca. O acordo com a Embrapa prevê a possibilidade de coleta e intercâmbio de material genético de acordo com a legislação dos dois países. Wenquan Wang quis saber do deputado Fernando Melo (PT-AC) o total de área desmatada no Acre e as condições das lavouras de mandioca de lá. O parlamentar respondeu-lhe com alegria: “Perdemos apenas 12% de área de cobertura original. E a mandioca poderá expandir-se à vontade, sem a necessidade de novas derrubadas”. (M.C.)





Pesquisador Eduardo Alano e o deputado Fernando Melo, durante a colheira, sexta-feira / M.CRUZ
Pesquisador Eduardo Alano e o deputado Fernando Melo, durante a colheira, sexta-feira / M.CRUZ
Acre quer microdestilaria
e vive grande expectativa


PLANALTINA – “O que falta na Amazônia são os princípios industriais, já que temos a base agronômica e a vontade de plantar”, disse à Agência Amazônia o agrônomo Diones Assis Salla, técnico agroflorestal da Secretaria de Desenvolvimento Agroflorestal do Acre. Ao participar do teste, ele lembrou que a mandioca faz parte da rica biodiversidade amazônica. “Ela não joga no time da monocultura”, argumentou.

Doutor em agronomia, na área de concentração em energia na agricultura, pela Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho, em Botucatu (SP), Salla participou do teste. Entusiasmado com as perspectivas de conservação do ecossistema, ele defendeu o consorciamento de culturas: “No meio do mandiocal é possível plantar também outras culturas, entre as quais, feijão, milho, abóbora, melancia. Isso significa que, na mesma área plantada com mandioca para produzir energia, teremos mais alimentos com qualidade”.




Carvalho e Salla trituram a mandiocaba / M.CRUZ
Carvalho e Salla trituram a mandiocaba / M.CRUZ

Menos dependência

Diones Salla lembrou que o projeto para microdestilarias no Acre obteve a aprovação da Centrais Elétricas do Norte Brasileiro e, se funcionar, diminuirá a dependência de combustíveis nos municípios mais isolados. “Está próximo o dia em que seringueiros, castanheiros. ribeirinhos e índios abastecerão suas canoas, bombas-d’água e casas de farinha”, assinalou.

De acordo com o diretor do Centro de Raízes e Amidos Tropicais na Unesp, Cláudio Cabello, todos os tipos de mandioca podem ser usados para a produção de biocombustível, entretanto, aqueles com maior concentração de amido – a mandioca industrial por exemplo – são os mais indicados. Há seis anos Cabello pesquisa a produção de etanol a partir de amidos. "Inhame e batata-doce têm boas possibilidades, mas não se comparam ao que é possível se fazer a partir da mandioca”, ele disse.

Cálculos de Cabello revelam que a produção de mandioca tem um custo de R$ 100 por hectare. “Cada hectare produz entre 28 e 30 toneladas, e o mercado paga R$ 140 pela tonelada. Isso permite que a margem de lucro desse tipo de produto seja excelente, dando inclusive maior liberdade para a definição da época da colheita”, argumentou.

Engenheira química Sílvia Belém, de área de Bioenergia / M.CRUZ
Engenheira química Sílvia Belém, de área de Bioenergia / M.CRUZ
O tempo de cultivo da mandioca varia entre nove e 30 meses. Para o vice-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca (Abam), Antônio Donizetti Fadel, sócio-proprietário de Halotek-Fadel, em Palmital (SP), “quanto mais tempo na terra, maior é a lucratividade”.

Fadel lembrou que o Brasil é o único País do mundo a colher no 24º mês. Com 12 meses, a produtividade alcança, em média, 25 toneladas por hectare. Se o prazo for ampliado para entre 18 e 24 meses, essa produtividade sobe para 40 toneladas. “O custo não aumenta tanto, porque não há necessidade de replante ou de preparar a terra novamente”, explicou Fadel. Essa produtividade já foi alcançada no Vale do Purus, no Acre, e na região nordeste do Pará.

No entanto, Fadel alertou que, para tornar mais atraente o uso da mandioca na produção de biocombustível e o investimento mais viável economicamente, a exemplo do Proálcool, o governo deveria contribuir com a melhoria da produtividade agrícola. “Só assim a produção será mais competitiva em relação à cana e a outras matérias-primas para biocombustíveis”, ele disse. (M.C.)

Fonte: Montezuma Cruz - A Agênciaamazônia é parceira do Gentedepinião e do Opiniao TV




Fonte: MONTEZUMA CRUZ
Agência Amazônia