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sábado, 18 de setembro de 2010

Mandioca doce da Amazônia vira etanol

O resultado do primeiro teste com a mandiocaba - a mandioca doce da Amazônia - usada para a fabricação de etanol, surpreendeu os cientistas da Embrapa. Reunidos no final de março, eles constataram que os 250 quilos de massa desintegrada dessa variedade, levados às dornas de uma microdestilaria montada na garagem da Embrapa Cerrados (Planaltina-DF), renderam 25 litros de etanol (C2H5OH). Foi pouco, mas significativo. "Além do açúcar utilizado naturalmente na fabricação do etanol, apareceram na experiência outros açúcares que não entram na fermentação", revelou o pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Luiz Joaquim Castelo Branco Carvalho. Segundo ele explicou, os próximos testes, que serão realizados ainda este ano, exigirão ação rápida que possa evitar a formação de aldeídeos (compostos químicos orgânicos). "Concentraremos esforços para utilizar todo o potencial dessa variedade", disse Carvalho, no fim do primeiro teste. Para transformar a mandioca doce em etanol, Carvalho e outros pesquisadores da Embrapa utilizaram uma microdestilaria da Usinas Sociais Inteligentes (USI), empresa de Porto Alegre que comercializa esse equipamento que é fabricado há três anos. A massa de mandioca fermentou por um período de Rendimento da destilação 5 a 7 mil litros por hectare é o total de bioetanolproduzido pela cana-de-açúcar 4 a 6 mil litros por hectare é o total de bioetanol produzido pela batata-doce 4 a 6 mil litros por hectare é o total de bioetanol produzido pela mandioca 3,5 a 4,5 mil litros por hectare é o total de bioetanol produzido pelo sorgo sacar ino Intercâmbio com a China aproximadamente dez horas, entrou em destilação e o álcool saiu a 96 GL (sigla de Gay Jussac e Cartier, criadores do densímetro para álcool). Custos Segundo o engenheiro Eduardo Malmann, da USI, a tecnologia "preserva o lado social e ambiental" e pode ser utilizada em propriedades rurais, cooperativas e prefeituras. Custo de produção do bioetanol por esse sistema fica entre R$ 0,35 e R$ 0,50 o litro. Carvalho lembrou que na mandioca não existe nenhum composto que iniba o processo biológico de fermentação alcoólica. Ele estima que, dependendo da região, a obtenção do álcool a partir dela poderá ser mais barata, inclusive, do que pela cana-de-açúcar. A mandiocaba vem sendo testada pela Embrapa Cerrados e, de acordo com o pesquisador Josefino Fialho, espera-se ainda o resultado da produtividade dessa variedade nos cerca de dois hectares de campos experimentais. Conversão rápida A experiência detalhada por Carvalho será agora oferecida à Agência Nacional de Petróleo (ANP). A agência estabelece para o País três tipos de produção de álcool combustível: o anidro, sem água, com 99% a 100%, usado diretamente nos carros flex; o álcool de 95 a 96 GL, com 5% de água, que não se mistura à gasolina e é usado diretamente na bomba; e o álcool convertido em aditivo para a gasolina. Carvalho iniciou, em 1996, pesquisas com as variedades de mandioca coloridas e açucaradas. Em 2003 produziu o xarope glicosado e em 2008 chegou ao álcool. Ele explica que a composição de açúcar dessa planta confere uma rapidez ao processo de conversão em álcool, enquanto o açúcar da cana leva 14 horas para ser beneficiado. A fabricação de etanol de mandiocaba dispensa o processo de hidrólise e adição de enzimas (importadas), o que pode reduzir o custo energético até 40%. Cada hectare de mandiocaba rende 14 metros cúbicos de álcool. Pelo processo convencional de hidrólise de amido da mandioca o rendimento é em torno de 6,4 m³ de álcool por um processo de fermentação que dura até 70 horas, enquanto o processo tradicional da cana-de-açúcar chegou a 8 m³ em 48 horas. Enquanto uma tonelada de cana produz 85 litros de álcool, a mesma quantidade de mandioca rende 211 litros do combustível. Porém, os custos de produção da cana-de-açúcar são menores em cerca de 50% quando comparados aos da mandioca. A variedade, até então privilégio da Amazônia, está sendo cultivada no Cerrado pelos técnicos da Embrapa. Em Planaltina, a 40 quilômetros do Plano Piloto, a produtividade é até quatro vezes menor, mas os pesquisadores buscam melhoramentos genéticos para colher mais mandioca-doce. Fala-se até em 10 toneladas/ha.

Intercâmbio com a China

Ao redor da microdestilaria, os visitantes acompanham a experiência que definirá o uso da mandiocaba como principal ingrediente na produção do etanol. Quase ninguém se mexe do lugar. Os olhos estão fixos na massa que sai lentamente da máquina trituradora e na pesagem. A engenheira química Sílvia Belém, da área de Bioenergia, confere as dezenas de baldes com a matéria-prima e anota tudo numa planilha. Suas explicações são traduzidas em inglês por um funcionário da Embrapa Biotecnologia. Os professores Wenquan Wang, da Academia de Ciência Chinesa para Agricultura Tropical (Catas), e Xin Chen, do Instituto Tropical de Biociência, acompanharam o professor Bin Liu, PhD do Instituto de Genomas de Beijing (China) e assistente de direção daquela instituição de ensino. Estudiosos do sequenciamento de genoma de suínos, de frangos e do ser humano, agora eles conhecem o uso da mandioca na fabricação de álcool. Na semana passada, eles visitaram o banco ativo de germoplasma de mandioca da Embrapa Cerrados, que reúne uma coleção com quinhentas variedades de diferentes procedências, entre as quais, a mandiocaba. Percorreram o trecho de aproximadamente 2 hectares de mandiocaba cultivada no Cerrado. Segundo o pesquisador Josefino Fialho, o primeiro arranquio ocorreu um ano após o plantio. Parte da lavoura foi plantada em novembro de 2008. Embrapa e Catas assinaram um memorando visando a cooperação em melhoramento genético da mandioca. Produtividade O pesquisador Eduardo Alano Vieira mostrou ainda aos pesquisadores o aumento da produtividade das variedades vermelha - rica em licopeno - e amarela - espécie com maior teor de betacaroteno. A Catas possui uma coleção com cerca de mil acessos de mandioca.Oacordo com a Embrapa prevê a possibilidade de coleta e intercâmbio de material genético de acordo com a legislação dos dois países. O agrônomo Flávio Ikeda, da Emater-PA, veio de Abaetetuba para participar do teste, e saiu satisfeito. "Vim para entender como ocorre essa transformação e para saber como está o desenvolvimento da mandiocaba no Cerrado. "Lá em Moju (60 mil habitantes, a 80 quilômetros de Belém), temos a missão de plantar, ainda neste semestre, pelo menos cinco hectares dessa variedade para iniciar a fabricação de etanol", diz Ikeda. Ele diz que Moju é um caso especial de êxito econômico no Pará: além de ser um município mandioqueiro com renda per capita de R$ 2,2 mil, segundo o censo de 2005 do IBGE, conta hoje com duas grandes indústrias que produzem óleo de dendê. Lá também funciona a primeira fecularia da Amazônia. "Mesmo assim, o Pará, o Acre, Rondônia e Amazonas ainda adquiremfécula em Paranava(noroeste do Paraná), a distâncias que variam de 3,6 mil a 4 mil quilômetros. "O etanol unirá o útil ao agradável", afirma Ikeda.

Rendimento da destilação

5 a 7 mil litros por hectare é o total de bioetanol produzido pela cana-de-açúcar

4 a 6 mil litros por hectare é o total de bioetanol produzido pela batata-doce

4 a 6 mil litros por hectare é o total de bioetanol produzido pela mandioca

3,5 a 4,5 mil litros por hectare é o total de bioetanol produzido pelo sorgo sacarino

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